2014-04-25 L’Osservatore Romano
«Eu ser-vos-ei propício em Roma», é
a inscrição inserida no escudo colocado acima do afresco do altar-mor da igreja
de Santo Inácio de Loyola em Roma. São
as palavras que recordam a célebre visão que o santo teve em Novembro de 1537
em Storta, localidade nos arredores da cidade. Naquele mesmo ano, na ilha de
Tenerife, o pequeno José de Anchieta dava os primeiros passos. Teria entrado na
companhia de Jesus com apenas 17 anos, em 1551, tornando-se depois o apóstolo
do Brasil.
No dia 3 de Abril o religioso foi
inscrito no álbum dos santos. Em sinal de acção de graças pela sua canonização
equipolente, o Papa Francisco celebrou a missa na igreja romana na tarde de
quinta-feira, 24 de Abril. Grande foi a participação sobretudo de fiéis
brasileiros, portugueses e espanhóis, unidos pela devoção ao santo jesuíta.
Entre eles, cerca de oitenta peregrinos provenientes das Canárias.A missa foi
celebrada em português, mas o Papa pronunciou a homilia em espanhol, frisando
que a Igreja se funda e cresce na alegria contagiosa do encontro com Jesus.
Antes do canto final, o cardeal Damasceno Assis, arcebispo de Aparecida, dirigiu
ao Pontífice uma breve saudação. Depois o prepósito-geral dos jesuítas, Adolfo
Nicolás Pachón, e o vice-postulador da causa de canonização de Anchieta, César
Augusto dos Santos, ofereceram-lhe uma relíquia do santo.
Texto da homilia do Papa:
No trecho do Evangelho que há pouco
ouvimos os discípulos não conseguem acreditar na alegria que sentem, pois não
podem crer por causa desta alegria. Assim diz o Evangelho. Analisemos a cena:
Jesus ressuscitou, os discípulos de Emaús narraram a sua experiência: também
Pedro afirma que O viu. Sucessivamente, o próprio Senhor aparece na sala e
diz-lhes: «A paz esteja convosco!». Vários sentimentos irrompem nos corações
dos discípulos: medo, surpresa, dúvida e, finalmente, alegria. Um júbilo tão
grande que, devido a esta alegria, «não conseguiam acreditar». Estavam
assustados, transtornados, e Jesus, praticamente esboçando um sorriso,
pede-lhes algo para comer e começa a explicar as Escrituras, abrindo-lhes a
mente para que pudessem compreendê-las. É o momento da admiração, do encontro
com Jesus Cristo, onde tanta alegria não nos parece verdadeira; ainda mais,
assumir a alegria, o júbilo daquele instante, parece-nos arriscado e sentimos a
tentação de nos refugiarmos no cepticismo, no «não exageres!». É mais fácil
acreditar num fantasma do que em Cristo vivo! É mais fácil ir ter com um
necromante que nos prediz o futuro, que nos lê as cartas, do que ter confiança
na esperança de um Cristo vencedor, de um Cristo que venceu a morte! É mais
fácil uma ideia, uma imaginação, do que a docilidade a este Senhor que
ressuscita da morte e só Deus sabe para que nos convida! Este processo de
relativizar tanto a fé acaba por nos afastar do encontro, distanciando-nos da
carícia de Deus. É como se «destilássemos» a realidade do encontro com Jesus
Cristo no alambique do medo, no alambique da segurança excessiva, do desejo de
controlarmos nós mesmos o encontro. Os discípulos tinham medo da alegria... e
também nós!A leitura dos Actos dos Apóstolos fala-nos de um paralítico. Ouvimos
somente a segunda parte da história, mas todos nós conhecemos a transformação
deste homem, aleijado de nascença, prostrado à porta do Templo a pedir esmolas,
sem nunca atravessar o seu limiar, e como os seus olhos fitaram o olhar dos
Apóstolos, esperando que lhe dessem algo. Pedro e João não podiam oferecer-lhe
nada daquilo que ele procurava: nem ouro nem prata. E ele, que tinha
permanecido sempre à porta, entra agora com os próprios pés, saltando e
louvando a Deus, celebrando as suas maravilhas. E a sua alegria é contagiosa. É
isto que nos diz a Escritura de hoje: as pessoas estavam cheias de enlevo e,
admiradas, acorriam para ver esta maravilha! E no meio daquela confusão,
daquela estupefacção, Pedro anunciava a mensagem. A alegria do encontro com
Jesus Cristo, aquela que temos tanto medo de aceitar, é contagiosa e clama o
anúncio: é ali que a Igreja cresce! O paralítico acredita, porque «a Igreja não
se desenvolve por proselitismo, mas por atracção»; a atracção do testemunho
daquela alegria que anuncia Jesus Cristo. Este testemunho que nasce da alegria
acolhida e em seguida transformada em anúncio. Trata-se da alegria
fundante! Sem esta alegria, sem este júbilo não se pode fundar uma Igreja! Não
se consegue instituir uma comunidade cristã! É uma alegria apostólica, que se
irradia, que se propaga. Como Pedro, também eu me interrogo: «Sou capaz, como
Pedro, se me sentar ao lado do meu irmão e de lhe explicar lentamente a dádiva
da Palavra que recebi e de o contagiar com a minha alegria? Sou capaz de
convocar ao meu redor o entusiasmo daqueles que descobrem em nós o milagre de
uma vida nova, que não se consegue controlar, e à qual devemos docilidade
porque nos atrai e nos conduz? E esta vida nova nasce do encontro com Cristo? Também
são José de Anchieta soube comunicar o que ele mesmo experimentara com o
Senhor, aquilo que tinha visto e ouvido dele; o que o Senhor lhe comunicava nos
seus exercícios. Ele, juntamente com Nóbrega, é o primeiro jesuíta que Inácio
envia para a América. Um jovem de 19 anos... Era tão grande a alegria que ele
sentia, era tão grande o seu júbilo, que fundou uma Nação: lançou os
fundamentos culturais de uma Nação em Jesus Cristo. Não estudou
teologia, também não estudou filosofia, era um jovem! No entanto, sentiu sobre
si mesmo o olhar de Jesus Cristo e deixou-se encher de alegria, escolhendo a
luz. Esta foi e é a sua santidade. Ele não teve medo da alegria. São José
de Anchieta escreveu um maravilhoso hino à Virgem Maria à Qual, inspirando-se
no cântico de Isaías 52, compara o mensageiro que proclama a paz, que anuncia a
alegria da Boa Notícia. Ela, que naquela madrugada de Domingo sem sono por
causa da esperança, não teve medo da alegria, nos acompanhe no nosso
peregrinar, convidando todos a levantar-se, a renunciar às paralisias para
entrar juntos na paz e na alegria que nos promete Jesus, Senhor Ressuscitado.
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